Vinho da Madeira Vs Vinho do Porto
- Paulo Braga Lopes
- 30 de jun. de 2016
- 5 min de leitura
Normalmente existe alguma confusão entre Vinho da Madeira e Vinho do Porto, ambos do mesmo País (Portugal), ambos fortificados, mas tão distintos.

Eu pretendo destacar mais o Vinho da Madeira com sua história e produção, pois é menos divulgado em relação ao Vinho do Porto.
Assim, o vinho da Madeira, é um vinho fortificado, com elevado teor alcoólico, produzido nas encostas e adegas da Região Demarcada da Ilha da Madeira, sob condições especiais em fatores humanos e naturais. Sendo uma ilha (Madeira), é fortemente influenciada pelos “ares” do mar, que provocam uma salinização natural dos ambientes ai existentes o que inflência todos os produtos desta Ilha. Este produto remonta ao ano de 1808, que "o segredo é da uva local de excelente qualidade e os tonéis em que são envelhecidos, madeira local da ilha, com sabor de mar".

A produção de vinho da Madeira remonta quase à época da descoberta da ilha (1419). As primeiras castas foram introduzidas sob ordens do Infante D. Henrique (navegador Português), e foram importadas de Cândia (capital de Creta, Grécia). Mais tarde foram introduzidas outras castas, como a Tinta Negra, a Sercial, a Boal, a Verdelho e a Malvasia. Estas últimas quatro produzem vinhos de qualidade superior, em função das condições climatéricas e da composição dos solos.
Como curiosidade histórica tenho de referir que a produção de vinho foi estimulada pela necessidade de abastecer os navios nas rotas do Atlântico para o Novo Mundo e para a Índia, e pela presença dos ingleses na ilha, que fizeram com que o vinho fosse conhecido em toda a Europa e América, tornando-se o vinho preferido em banquetes e mesas requintadas das cortes europeias e nas respectivas colónias. Por exemplo, foi com vinho da Madeira que em 4 de Julho de 1776 se brindou à independência dos Estados Unidos da América, provavelmente porque era o vinho de eleição do estadista Thomas Jefferson.
Este vinho, nos dias de hoje é submetido à estufagem, processo que em tempos mais remotos já era praticado (efeito benéfico do calor no envelhecimento do vinho). Na época das grandes viagens marítimas dos portugueses, rapidamente se constatou que os vinhos da Madeira embarcados nos porões dos navios, mercê das altas temperaturas dos trópicos, regressavam claramente melhorados (os célebres vinhos de “Torna-Viagem”). Daí à tentativa de artificialmente produzir o mesmo efeito foi um passo, surgindo no século XVIII vários engenhos que se destinavam a consegui-lo, uns por aquecimento direto, outros pela circulação de ar quente e posteriormente pela utilização de vapor de água que circulava em serpentinas de cobre que mergulhavam no vinho.
As técnicas foram evoluindo e presentemente as estufas são construídas em aço inoxidável, com camisas de transmissão de calor, isotérmicas, poupando imensa energia, e quase não havendo choque térmico, dado que o líquido que circula nas camisas é água a cerca de 70°C. Assim o vinho que é aquecido com suavidade, permanece ao abrigo do ar (ambiente redutor) a cerca de 50°C, durante noventa dias, findos os quais inicia um período de estágio de outros noventa dias à temperatura ambiente. Durante este tempo, mercê de oxidações e reduções sucessivas, o vinho adquire um aroma e um paladar “sui generis” e muda também de cor, perdendo densidade cromática e adquirindo laivos acastanhados ou amarelados, de várias tonalidades, que caracteriza o Vinho da Madeira novo. A partir daqui o vinho está apto a ser comercializado em consonância com um conjunto de procedimentos técnicos e administrativos, adequados a cada situação. Estes vinhos também de alta qualidade, são comercializados apenas com a designação de “Madeira”. A eventual elucidação do tipo de vinho ao consumidor é efetuada pelos designativos, seco, meio seco, meio doce e doce, correspondendo respectivamente aos graus Baumé.

Nos dias de hoje a produção de Vinho Madeira é feita a partir da casta Tinta Negra que representa cerca de 90% do total, sendo os restantes 10%, o Sercial, o Verdelho, o Boal e o Malvasia, destinados a vinhos finos, em geral destinados ao envelhecimento em canteiro (envelhecimento natural em casco sem recurso à estufa), e mais tarde comercializados por melhores preços. O Sercial que terá de ser seco, o Verdelho meio seco, o Boal meio doce e o Malvasia doce, quando comercializados com o designativo da casta, têm de corresponder ao conteúdo, ou seja são monovarietais.
Todos estes vinhos apresentam uma graduação alcoólica que varia de 17 a 22 % em volume, e um teor de açúcar compreendido entre 0 e cerca de 150 gramas por litro. Este açúcar residual é o resultado da interrupção da fermentação alcoólica, por adição de álcool vínico com o mínimo de 96,0 %, em momentos diferentes da fermentação alcoólica, consoante se necessite de vinhos secos ou doces.
A grande confusão surge quando tentamos encontrar uma vinho semelhante, e naturalmente lembramos o Vinho do Porto, mas as diferenças entre os dois são muito consideráveis, vou referir as mais marcantes:
As castas:
Vinho do Porto são Touriga, Bastardo, Mourisca, Sousão, Tinta Cão, Tinta Francisca e as brancas Malvásia, Verdelho e Rabigato.
Vinho Madeira são Malvasia, Bual, Verdelho, Sercial, Malmsey, Tinta Negra Mole, Terrantez e a Bastardo.
2. A concentração de açúcar :
A concentração de açúcar destes vinhos também é diferente. Um Madeira pode variar de menos de 49,1g/litro (extrasseco) até mais de 96,1g/litro (doce), enquanto a variação do Porto é maior, indo de menos de 40g/litro (extrasseco) até mais de 130g/litro (muito doce). No entanto, a maior parte dos vinhos do Porto são doces, com concentração de açúcar entre 90 e 130g/litro, alta em comparação ao Madeira.
As diferentes concentrações de açúcar são resultado de diferentes momentos de interrupção da fermentação alcoólica pela adição de aguardente: permitir maior tempo de fermentação resulta em vinhos mais secos; interromper o processo de fermentação por meio da aguardente mais cedo, produz vinhos mais doces.
3. O envelhecimento destes dois grandes vinhos são feitas de formas bastante distintas, a ver:
O Vinho do Porto se divide em dois "mundos": envelhecimento em carvalho e em garrafa.
Os Portos Tawny, envelhecidos e conservados em barris de carvalho por longos períodos, são engarrafados somente quando estão prontos para serem consumidos. A perda por evaporação que ocorre no envelhecimento em madeira pode chegar a 2% ao ano. Isso significa maior concentração de ácidos e de açúcar.
Existem os vinhos do porto envelhecem em garrafas, que são os Portos Safrados, engarrafados quando jovens, pois ainda têm necessidade de tempo para suavizar seus taninos e adstringência.
O envelhecimento do vinho Madeira dá-se por um processo de maturação que utiliza calor, numa tentativa de simulação das condições a que esses vinhos eram submetidos nas suas longas travessias oceânicas até as Índias, quando atravessavam duas vezes a linha do Equador. E esse calor também é obtido de duas formas diferentes.
Em cubas de aço inox, e aquecido a 45 ou 50°C, sendo mantido a esta temperatura através de um sistema de permuta com água quente, durante um período nunca inferior a 3 meses.
No entanto os vinhos Madeira de qualidade superior são envelhecidos por um processo de maturação conhecido como “canteiro”, no qual empilham-se os cascos de madeira na parte superior dos armazéns, muito próximos ao telhado e, portanto, com pouco isolamento, para que possam usufruir do calor que ali se acumula. O clima subtropical da ilha da Madeira é o ideal para este tipo de processo de maturação.
Como podemos concluir este dois excelentes vinhos, embora semelhantes são tecnicamente muito diferentes.
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